Ele só pegou um táxi. Saiu com um novo rumo na vida
O rádio do velho táxi tocava uma música lenta, dessas que ninguém lembra o nome, mas que sempre toca quando a cidade amanhece ainda meio sonolenta. Era 6h47 da manhã quando João ligou o motor do carro, pronto para mais um dia comum. Quarenta e nove anos de idade, vinte e sete deles sentado atrás de um volante. Nunca havia saído do bairro onde nasceu. Sabia o nome de cada rua, o preço de cada café, o rosto de cada cliente antigo. Mas não fazia ideia de que aquele dia, com aquele passageiro, mudaria completamente a sua vida — e a de outro homem também.
A corrida foi chamada por aplicativo. O destino: um edifício empresarial no centro da cidade. Passageiro: masculino, terno escuro, pasta de couro, olhar perdido. Quando entrou no carro, o homem sequer cumprimentou João. Apenas disse: “Vamos.” O taxista percebeu algo estranho. O cliente parecia inquieto, com as mãos tremendo e o olhar fixo no nada. João, que aprendera a ler rostos como quem lê placas de trânsito, sentiu que havia mais naquele silêncio do que parecia. E resolveu quebrá-lo.
— Dia puxado hoje, doutor? — perguntou, tentando puxar assunto. O homem demorou a responder. — Último — respondeu seco, com voz baixa.
João pensou ter ouvido errado, mas algo no tom fez sua espinha gelar. Continuou dirigindo, mas agora com o coração apertado. Nos minutos seguintes, o passageiro permaneceu calado, apenas olhando a paisagem com olhos vazios. Quando pararam em um semáforo, João olhou pelo retrovisor e viu uma lágrima escorrendo pelo rosto do homem. Não aguentou.
— Me desculpe perguntar... mas está tudo bem?
O homem hesitou. Depois respirou fundo e falou: — Estou indo encerrar tudo. Minha empresa, minha vida... tudo. João sentiu o estômago embrulhar. Estava diante de alguém prestes a desistir. Talvez, se ele não falasse nada, aquele homem sairia do carro e se jogaria da janela do prédio — e ninguém jamais saberia que havia um último sinal, um último pedido de socorro no olhar.
Foi então que João parou o carro no acostamento. Girou o corpo, olhou nos olhos do passageiro e disse: — Doutor, eu não sei o que está acontecendo, mas eu sei o que é perder tudo. Há dez anos, perdi meu filho de cinco anos pra uma doença que nem nome tinha. Quase perdi a cabeça. Mas um dia, um senhor que pegou uma corrida comigo me disse uma coisa que mudou minha vida: “a dor é um visitante cruel, mas nunca construa casa pra ela morar.”
O silêncio dentro do carro ficou denso. O homem começou a chorar de verdade. E João, sem conhecer aquele estranho, parou o táxi, saiu do carro e foi até a porta traseira. Abriu e segurou o ombro do homem.
— Eu não sei o que te fez pensar que hoje seria seu último dia. Mas se você aceitar, posso te levar pra tomar um café comigo. Não como taxista. Como amigo.
O homem não respondeu. Mas não desceu do carro. João ligou o motor e mudou o destino. Foram a um pequeno bar na periferia, onde o café era forte e as palavras leves. Ficaram ali por quase duas horas. O homem contou que sua empresa estava afundando, que havia sido traído por sócios, abandonado pela esposa, e que naquele dia planejava pular da cobertura onde trabalhou por mais de quinze anos. João ouviu tudo com calma, sem julgar. Apenas ouviu. Quando o homem terminou, João disse:
— A vida não te traiu. Foram pessoas. E pessoas, meu amigo... a gente aprende a filtrar. Mas a vida, essa ainda te quer aqui.
Na semana seguinte, João recebeu uma ligação. Era o homem. Disse que desistiu da ideia, que começou terapia, e que pediu ajuda a um antigo amigo de infância para recomeçar. Mas o que mais tocou João foi ouvir:
— Se você não tivesse parado aquele carro, eu não estaria aqui agora. Você me salvou, João. Obrigado por ser o último farol antes do fim.
Hoje, eles são amigos. O homem abriu uma nova empresa, com menos ambição e mais propósito. E João? Segue no táxi, levando vidas de um ponto ao outro — mas agora sabendo que, às vezes, uma simples corrida pode ser a viagem mais importante da vida de alguém.
— Dia puxado hoje, doutor? — perguntou, tentando puxar assunto. O homem demorou a responder. — Último — respondeu seco, com voz baixa.
João pensou ter ouvido errado, mas algo no tom fez sua espinha gelar. Continuou dirigindo, mas agora com o coração apertado. Nos minutos seguintes, o passageiro permaneceu calado, apenas olhando a paisagem com olhos vazios. Quando pararam em um semáforo, João olhou pelo retrovisor e viu uma lágrima escorrendo pelo rosto do homem. Não aguentou.
— Me desculpe perguntar... mas está tudo bem?
O homem hesitou. Depois respirou fundo e falou: — Estou indo encerrar tudo. Minha empresa, minha vida... tudo. João sentiu o estômago embrulhar. Estava diante de alguém prestes a desistir. Talvez, se ele não falasse nada, aquele homem sairia do carro e se jogaria da janela do prédio — e ninguém jamais saberia que havia um último sinal, um último pedido de socorro no olhar.
Foi então que João parou o carro no acostamento. Girou o corpo, olhou nos olhos do passageiro e disse: — Doutor, eu não sei o que está acontecendo, mas eu sei o que é perder tudo. Há dez anos, perdi meu filho de cinco anos pra uma doença que nem nome tinha. Quase perdi a cabeça. Mas um dia, um senhor que pegou uma corrida comigo me disse uma coisa que mudou minha vida: “a dor é um visitante cruel, mas nunca construa casa pra ela morar.”
O silêncio dentro do carro ficou denso. O homem começou a chorar de verdade. E João, sem conhecer aquele estranho, parou o táxi, saiu do carro e foi até a porta traseira. Abriu e segurou o ombro do homem.
— Eu não sei o que te fez pensar que hoje seria seu último dia. Mas se você aceitar, posso te levar pra tomar um café comigo. Não como taxista. Como amigo.
O homem não respondeu. Mas não desceu do carro. João ligou o motor e mudou o destino. Foram a um pequeno bar na periferia, onde o café era forte e as palavras leves. Ficaram ali por quase duas horas. O homem contou que sua empresa estava afundando, que havia sido traído por sócios, abandonado pela esposa, e que naquele dia planejava pular da cobertura onde trabalhou por mais de quinze anos. João ouviu tudo com calma, sem julgar. Apenas ouviu. Quando o homem terminou, João disse:
— A vida não te traiu. Foram pessoas. E pessoas, meu amigo... a gente aprende a filtrar. Mas a vida, essa ainda te quer aqui.
Na semana seguinte, João recebeu uma ligação. Era o homem. Disse que desistiu da ideia, que começou terapia, e que pediu ajuda a um antigo amigo de infância para recomeçar. Mas o que mais tocou João foi ouvir:
— Se você não tivesse parado aquele carro, eu não estaria aqui agora. Você me salvou, João. Obrigado por ser o último farol antes do fim.
Hoje, eles são amigos. O homem abriu uma nova empresa, com menos ambição e mais propósito. E João? Segue no táxi, levando vidas de um ponto ao outro — mas agora sabendo que, às vezes, uma simples corrida pode ser a viagem mais importante da vida de alguém.
